Philosophica: International Journal for the History of Philosophy

Volume 4, Issue 7, April 1996

Isabel Medina Silva
Pages 151-162

A Avaliação no Ensino da Filosofía

O presente ensaio pretende levantar algumas dificuldades na aplicação de técnicas de avaliação no âmbito do ensino da filosofia no secundário. Com efeito, o ensino da filosofía encerra diversos paradoxos, quer ao nível da sua própria ensinabilidade, quer ao nível dos modelos de aprendizagem e da respectiva avaliação. Grande parte das dificuldades sentidas pela maioria dos professores provém de duas ordens de factores: - por um lado, do sistema educativo português que utiliza instrumentos legais para institucionalizar mecanismos de avaliação tendencialmente centralizadores e com efeitos retroactivos sobre os próprios modelos de ensino--aprendizagem; - por outro lado, da abordagem didáctica curricular da própria disciplina de filosofía, a qual, pelos seus objectivos próprios e pela natureza do seu saber questionante e radicalizante, não se quer inscrita no currículo como «mais uma disciplina » entre outras. Após se enunciar sumariamente alguns dos conhecidos (e não recentes) problemas que emergem do contexto das relações institucion ais entre a docência e o poder, onde a avaliação desempenha uma função crucial, propõe-se uma análise de aspectos da prática avaliativa no ensino da filosofía, tais como: - inadequação de procedimentos e dificuldades decorrentes da aplicação de técnicas de avaliação que foram pensadas para os domínios das ciências exactas ou experimentáis, quando transpostas para a área do ensino da filosofía; - a polémica entre os modelos quantitativos e os modelos qualitativos e a necessidade de inovação em áreas onde se verifica uma notória insuficiência na investigação pedagógica; - algumas sugestões sobre critérios e elementos a ter em conta no processo de avaliação para que esta não se reduza a mera técnica classificativa. Conclui-se apontando como orientação que a avaliação em filosófía deva ser pensada integradam ente no contexto da própria aprendizagem filosófica, e nunca como um ‘corpo estranho’ a esse processo, embora reconhecendo que se torna cada vez mais difícil conciliar esse propósito com as exigências institucionais de aferir essas práticas avaliativas segundo padrões ou normas criteriais genéricas.